Durante décadas, o Clube Atlético Juventus foi lembrado com carinho por seus torcedores como um símbolo da tradição futebolística da Mooca, bairro operário e de forte identidade cultural na zona leste de São Paulo.

No entanto, poucos fora do círculo mais íntimo do clube davam o devido valor a uma conquista antiga e envolta em polêmica: o Campeonato Paulista de 1934.

Por muito tempo, esse título foi ignorado pelas federações oficiais, caindo quase no esquecimento mesmo entre os mais apaixonados.

Em 2010, porém, uma revisão histórica conduzida por pesquisadores do futebol paulista trouxe à tona novas evidências que mudariam o entendimento sobre aquela edição do campeonato.

Após estudos de documentos, atas e registros da época, a Federação Paulista de Futebol (FPF) reconheceu oficialmente, em 2024, o Juventus como campeão paulista de 1934.

Foi o fim de uma espera de 90 anos, 80 deles de forma mais intensa, já que o clube passou a reivindicar o título oficialmente a partir dos anos 1940.

A polêmica de 1934: duas ligas, dois campeonatos

O ano de 1934 foi marcado por uma cisão no futebol paulista, com duas ligas organizando campeonatos paralelos: a Federação Paulista de Football (FPF, distinta da atual) e a Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA).

O Juventus, então chamado de Clube Atlético Juventus da Mooca, disputou o campeonato promovido pela FPF, que reunia clubes considerados menores ou independentes das forças dominantes da época.

Apesar de vencer a competição dentro de campo com mérito, a disputa paralela da APEA, que contou com times como Corinthians e Palestra Itália, acabou ofuscando a conquista do Juventus.

Com o tempo, o campeonato da APEA foi considerado "oficial" e seu vencedor reconhecido como campeão paulista daquele ano.

O torneio vencido pelo Juventus ficou à margem da história, tratado como alternativo ou não oficial.

A longa campanha pelo reconhecimento

A partir das décadas de 1940 e 1950, ex-dirigentes e torcedores do Juventus iniciaram um esforço constante para que o título de 1934 fosse validado pelas entidades que comandavam o futebol paulista.

Documentos foram reunidos, depoimentos coletados e a história começou a ser contada de forma mais sistemática. O clube sempre defendeu que a sua conquista teve legitimidade e organização comparável à da liga rival.

Foi só no século XXI, com o crescimento do interesse por história e memória no futebol, que a causa ganhou mais força.

Pesquisadores independentes, jornalistas e historiadores do esporte passaram a revisar os títulos esquecidos de campeonatos paralelos.

O Juventus, com sua base comunitária forte e orgulho local, se tornou símbolo dessa luta por justiça esportiva.

Vitória tardia, mas simbólica

Em 2024, a Federação Paulista de Futebol enfim reviu sua posição e oficializou o Juventus como campeão paulista de 1934, igualando-o aos demais campeões da elite do futebol estadual.

A decisão foi celebrada com festa na Mooca, onde o clube continua a ser um pilar de identidade e resistência.

O reconhecimento também foi visto como um gesto de respeito à diversidade e à complexidade da história do futebol paulista.

Mais do que um troféu, o título agora reconhecido representa o resgate da memória e da dignidade esportiva de um clube que sempre se manteve fiel às suas raízes.

Para o Juventus e sua torcida, não se tratou apenas de um acerto estatístico: foi a consagração de uma história de paixão, perseverança e orgulho operário.